26 fevereiro, 2011

Arquitetura em transição - Arquiteto Acácio Gil Borsoi

No 19º congresso de arquitetos de 2010, foi apresentados temas que abordaram as transições tanto para ARQUITETURA como para o AQUITETO. Vejam a matéria abaixo com vários questionamentos que nos fazem pensar pra onde esta indo o rumo da arquitetura e urbanismo, que nos faz ter vontade de mais informações e procurar as respostas para estes questionamentos.


A arquitetura:


Arquitetura como fato cultural
 
A arquitetura, na sua condição de permanência e transcendência, constitui uma das marcas mais genuínas da genialidade humana. A cidade, conjunção de todas as arquiteturas, é a obra cultural por excelência. Sua produção na contemporaneidade está sujeita a uma serie de condicionantes que definem o atual momento de transição, entre os quais destacam-se: os novos paradigmas surgidos após a crise do modelo do modernismo; a condição periférica da realidade latino-americana; o acelerado crescimento das cidades; a uniformização cultural que impõe a globalização; a generalização e abstração do planejamento urbano; a crise do modelo de desenvolvimento que provocou a maior expansão demográfica, urbana e econômica da historia e, ao mesmo tempo, um grande desequilíbrio ambiental; a arquitetura-negócio, que substitui manifestações culturais por objetos de consumo; e o domínio da cultura das aparências, que relegam a um segundo plano o pensamento e a reflexão disciplinar. A atual situação impõe desafios que passam por superar o caráter periférico da nossa realidade. Como considerar as condições culturais para realizar uma arquitetura com sentido de transcendência e significado cultural? Como definir modelos de cidade válidos e coerentes? Como valorizar as particularidades culturais para integrá-las no contexto de oportunidades de divulgação e conhecimento que oferece a globalização? Como arquiteturas autóctones estão sendo incorporadas na prática contemporânea? Se as imagens substituem os conceitos e a informação substitui o conhecimento, como promover uma produção arquitetônica assentada na reflexão disciplinar?

Novos territórios, velhas metrópoles
 
A configuração do território urbano e rural tem sido transformada na contemporaneidade: a redefinição das antigas polaridades centro/periferia, rural/urbano, a emergência de espaços centrais independem do fator locacional, o aumento das áreas de influência das cidades globais. Nas últimas décadas, o projeto urbano passou a incluir temas como novas formas de articulação com o setor privado, empreendorismo urbano, novos instrumentos urbanísticos, jurídicos e financeiros. Como interpretamos hoje o território em que se desenvolvem nossas cidades? Como equilibrar as relações entre conservação e transformação, as tensões entre tradição e modernidade na construção de um ideário urbanístico contemporâneo para as nossas metrópoles? Como redefinir as fronteiras entre projeto urbano, desenho urbano e planejamento? Como lidar com espaços articulados em rede, consórcios de territórios globais, com novas centralidades urbanas e estruturas rurais? Como projetar espaços urbanos com a emergência dos novos controles e instrumento de segurança nos ambientes urbanos e a arquitetura de espaços virtuais, desterritorializados, que (re) configuram os territórios do poder, da produção e da convivência?

Os processos de preservação do patrimônio histórico
 
A obsolescência de nossas estruturas arquitetônicas e urbanas acontece de forma cada vez mais rápida. Muitos edifícios e áreas da cidade, inclusive aqueles construídos ao longo do século XX, apresentam problemas de conservação e estão sob risco de descaracterização ou demolição. A idéia de que a arquitetura moderna e contemporânea é um patrimônio cultural e, como tal, merece ser conservada para as futuras gerações, ainda não está consolidada na sociedade. O envelhecimento precoce das edificações, o uso de novos materiais sem tradição construtiva e durabilidade comprovada, o abandono dos materiais tradicionais, a suposição de que os edifícios modernos não precisavam de manutenção, e o não entendimento da pátina como algo positivo na arquitetura moderna são alguns dos desafios na conservação da arquitetura moderna. Esses desafios exigem uma reflexão mais cuidadosa. Como as teorias clássicas do restauro podem nos ajudar a refletir sobre esses novos problemas? Como aceitar a pátina na arquitetura moderna? Como entender os processos de deterioração de novos materiais e sistemas construtivos e quais os procedimentos mais adequados para intervenções de restauro e conservação? Como introduzir novos usos em edifícios pensados para usos hoje obsoletos? Como atender às novas demandas sociais, tecnológicas e energéticas sem alterar a integridade e a unidade estética desses edifícios e conjuntos? Quais os parâmetros mínimos a serem observados para a conservação?

Tecnologia e meio ambiente
 
Os arquitetos hoje têm de lidar com uma série de questões relacionadas à eficiência energética, sustentabilidade, utilização eficaz de recursos naturais e artificiais, e incorporação de tecnologias e processos construtivos mais responsáveis em termos ambientais. Esses novos paradigmas trazem uma série de desafios aos arquitetos, mas também oferecem infinitas possibilidades nos processos construtivos e projetuais e novas formas de expressão arquitetônica. Como a arquitetura brasileira está respondendo a essas questões? Como as lições de Lucio Costa, Acácio Gil Borsoi, Severiano Porto, Armando de Holanda e João Filgueiras Lima podem ainda nos ser úteis? Como os conceitos e ferramentas tecnológicas que hoje estão ao alcance do arquiteto afetam o ato de projetar? Como estes novos valores de respeito ao meio ambiente estão sendo incorporados à prática arquitetônica contemporânea, particularmente no que se refere às preocupações tradicionais, como a inserção no espaço urbano, uso de elementos pré-fabricados e a fabricação da fachada? Como superar a aparente dicotomia entre ambiente e tecnologia, visto que já tiveram caminhos antagônicos, mas que vêm confluindo para uma possível integração? A forma como o debate da sustentabilidade vem sendo introduzido na discussão arquitetônica contemporânea não está revelando uma ênfase demasiada em aspectos técnicos?


O Arquiteto:

Novos saberes arquitetônicos: produção, transmissão e aplicação
 
O avanço das tecnologias digitais, da expansão das redes de informação, da criação de novos materiais, das tecnologias energéticas inovadoras e das novas posturas profissionais tem impactos profundos sobre a formação em arquitetura. Esta sessão busca refletir e avaliar experiências e propostas de ensino para a formação dos futuros arquitetos que possa fazer face à esses novos desafios. Serão bemvindas experiências de ensino relacionadas à: experiências de ateliers integrados com pesquisa, novas estratégias de conhecimento, rompendo limites disciplinares; a contribuição de processos digitais a concepção do projeto; práticas de educação com capacitação na competência, a formação guiada pelo aprendizado profissional em estágios e experiências práticas profissionalizantes; inovações trazidas pelas novas experiências transdisciplinares e didáticas de projeto, os modos de transmissão de conhecimento no campo das artes, da teoria, e história da arquitetura; o impacto das experiências internacionais de intercambio no ensino da arquitetura, o compartilhamento de conhecimentos no encontro, na socialização e na compreensão de diferenças culturais.

Os arquitetos nas equipes multidisciplinares
 
O mercado de trabalho atual não contempla mais o modelo do arquiteto “gênio criador e solitário no atelier”. Para atuar neste novo contexto, o arquiteto se vê obrigado a desenvolver, após sua graduação, as capacidades e habilidades necessárias ao trabalho em equipes multidisciplinares. Hoje são crescentes as demandas da sociedade por profissionais capazes de atuar em grupos multidisciplinares, com conhecimentos que transcendam a sua formação profissional específica, e com capacidade de gestão e atuação em equipe, e que possuam habilidades como liderança e comunicação, para as quais nem sempre foram treinados. Cresce também o arsenal de informações e recursos tecnológicos, que, cada vez mais sofisticados, abrem novos horizontes e territórios de atuação. A proposta dessa sessão é debater, a partir das práxis acadêmicas e profissionais, as formas de inserção e de atuação do arquiteto neste mercado de trabalho ampliado, no qual enfrenta o grande desafio de reafirmar as capacidades de planejamento e projeto, de forma a assumir postos de coordenação e de liderança em processos de gestão cada vez mais complexos. Esta sessão deverá também esclarecer as diferenças entre multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, e, dentro delas, o papel das disciplinas arquitetônica e urbanística.

Da arte de construir à inteligência arquitetônica
 
A tríade vitruviana (venustas, utilitas e firmitas) pressupunha que a arquitetura deveria obedecer aos padrões de “bom gosto” e às regras da simetria, bem como apresentar uma distribuição correta dos cômodos, um uso adequado dos materiais e uma firme implantação no solo. Embora tenham sido abalados a partir das primeiras décadas do século XX pelo modernismo, esses pilares da disciplina arquitetônica se mantiveram em pé e continuam a orientar o ensino, a prática e a avaliação crítica da arquitetura. Nas últimas décadas, entretanto, parecem surgir indícios de uma revisão teórica alimentada por inéditas transformações urbanas e tecnológicas. A cidade, que sempre fora caracterizada pela estabilidade de estruturas fisicamente construídas, passou a ser configurada pela imaterialidade e fugacidade dos conteúdos difundidos pelos meios de comunicação de massa. Em vez de espacialidades demarcadas por elementos edificados, instalou-se um espaço virtual que é definido pelas condições de transmissão e recepção de dados. Nesse contexto, não surpreende que a autonomia disciplinar esteja em crise nem que as próprias edificações venham sendo cada vez mais definidas por estratégias que costumam desconsiderar cânones formais, funcionais e construtivos. É possível a emergência de um novo campo transdisciplinar fundado na análise, na organização e na produção de significados espaciais independentemente da edificação? Se a experiência espácio-temporal é hoje configurada muito mais pelos efeitos das tecnologias da informação do que pelas estruturas materialmente estabelecidas, deveria a arquitetura deixar de ser compreendida como a “arte de construir” para se converter em “inteligência arquitetônica aplicada”? Estaria a arquitetura em um caminho para ser um conhecimento relacionado à capacidade de analisar, organizar e produzir significados espaciais independentemente da edificação?

Do ateliê à empresa
 
Os requerimentos da vida contemporânea levaram os escritórios que em sua maioria se configuravam ateliês a se tornarem empresas adaptadas ao mercado e aos regimes da produção econômica. A capacidade para formar grupos de trabalho e atitudes empreendedoras são habilidades exigidas hoje no exercício da arquitetura e do urbanismo. Ambientes de trabalho virtuais e redes de cooperação estão entre as mais recentes formas de produção da arquitetura, acompanhando o processo atual de desempenho das atividades contemporâneas. Frente à regulação da profissão do arquiteto e urbanista, com a sua incorporação ao mercado formal de trabalho, assistimos hoje à necessidade imperiosa de fornecer respostas eficientes e eficazes às encomendas que já não são apenas “sonhos e necessidades”, mas demandas por produtos cada vez mais complexos. O que sobrou daqueles ateliês de produção da arquitetura, onde aprendizes e mestres a colocavam, em primeiro lugar, na condição de construção do conhecimento, antes mesmo do produto ser encomendado? Será que deixou de ser ou se tornou um diferencial frente às empresas de consultoria dotadas de certificações de qualidade de processos? É possível ainda defender a condição de profissional generalista, em clara contradição com a tendência percebida na maioria das profissões? Como lidar com a dose de marketing lançada nos projetos quando são levados ao público?

Um comentário:

  1. A arquitetura e urbanismo, com certeza está se modificando, com as demandas da sociedade, natureza, leis, entre outros e com certeza, cabe aos arquitetos efetivamente sabem sempre mais, alargar os horizontes, para encontrar novas possibilidades...

    ResponderExcluir